O nobre espanhol Alvar Nuñez Cabeza de Vaca viveu entre os Séculos XV e XVI, esteve na América, descobriu as Cataratas do Iguaçu e foi dos primeiros a navegar pelo rio Paraguai. O sobrenome famoso é de família: um ancestral astucioso colocou um crânio de vaca para indicar o caminho dos acampamentos mouros, permitindo aos exércitos cristãos encontrar e derrotar os árabes invasores na Península Ibérica. Amores enfeitiçados, peripécias assombrosas e aventuras confusas do personagem estão lastreados em documentos epocais reunidos cuidadosamente e marcados por uma prosa poética. Hábil narrador, sempre atento a detalhes, Fábio Campana mostra-se como era na vida real: irônico e dono de um humor sardônico, às vezes amargo. "Ñaypytyvõ va' era lo chiru" (devemos ajudar os amigos), dizem os índios a Cabeza de Vaca. "O difícil é imaginar as concessões que devemos fazer para sermos considerados amigos, começando por abdicar de princípios da fé cristã e abraçar a perdição na luxúria". Foi Cabeza de Vaca quem disse isso ou foi Fábio Campana? Com este alter ego, o autor faz as vezes do personagem e sua história parece passar-se hoje, não na Era dos Descobrimentos.