O objetivo geral que norteou esta pesquisa foi a investigação dos fatores que contribuíram para que a descoberta da geometria analítica fosse atribuída a Descartes de maneira exclusiva por parte de alguns historiadores, tendo em mente que a presente descoberta não se constituiu em uma controvérsia de seu tempo. Para realizarmos tal intento, foi preciso nos debruçar nas realidades vivenciadas por Descartes e Fermat no século XVII, bem como em suas pesquisas, e comparar o status que ambos adquiriram naquela época. Dessa forma, tomando como base a epistemologia de Ludwik Fleck, fizemos então uma análise histórica das carreiras matemáticas de Descartes e Fermat – descritas por seus principais especialistas: Sasaki e Mahoney – e identificamos os seus estilos de pensamento próprios dos coletivos matemáticos dos quais eles participavam e, com isso, verificamos se a maior ou menor proximidade dos seus respectivos estilos para com a atmosfera estilística dominante inibiu de alguma forma a propagação dos seus trabalhos. Investigamos também a possibilidade de um Descartes muito mais inserido no contexto social e tecnológico da época, pois se todos os seus tratados filosóficos e científicos anteriores e posteriores ao Discurso do Método tiveram uma carga de influência de princípios mecânicos, era natural, supõe Grossmann, que Descartes também tenha aplicado os mesmos princípios mecânicos na constituição do seu instrumento para a unificação de todas as ciências, a álgebra simbólica.