O romance de adultério é uma instituição do século XIX. Nele, manifesta-se a forma realista, ápice da narrativa oitocentista, que consagra o romance como gênero literário maior. Madame Bovary e Anna Kariênina são as mais importantes obras com essa temática e é a partir de uma leitura pormenorizada desses dois romances que Rafhael Borgato percorre a história do romance moderno, desde sua ascensão na Inglaterra do século XVIII até a consagração no realismo moderno do século XIX. O realismo formal e a representação da realidade cotidiana são os elementos definidores da modernidade do gênero, a linha contínua que une as pontas da história dessa forma literária e nos permite identificar uma tradição do romance. Mas existe uma diferença básica entre os dois momentos históricos aqui abordados: há uma vocação para o épico no romance inglês do século XVIII que está ausente no realismo moderno do século XIX, trágico por excelência. A análise deste livro se concentra, pois, nessa diferença e nas contradições dialéticas entre a epopeia e o romance e entre o trágico e a natureza da prosa. Trata-se de um ensaio sobre a história do romance moderno e sobre a estruturação desse gênero fundamental para a compreensão da literatura no mundo burguês-capitalista.