Há tempos que muitas pessoas vêm manifestando indignação diante de um fenômeno silenciado na grande mídia: a ausência de negros e indígenas de sucesso na música sertaneja. Após a morte do cantor João Paulo, que fazia dupla com Daniel, este mercado impôs uma barreira para os artistas não-brancos, promovendo uma exclusão sem precedentes no gênero, que em seu embrião e desenvolvimento é marcado por uma imensa e diversificada contribuição negra e indígena, ainda desconhecida pela maioria. Uma influência africana via instrumentos de corda que impacta a Península Ibérica, entre os séculos VIII e XV, desembocando no surgimento na viola. Na colônia portuguesa tal cordofone se abrasileirou servindo na catequese de indígenas, e embalando danças e músicas de origem afro-brasileira. Artistas negros brasileiros sacodem os salões nobres de Portugal e ecoam suas artes por toda a Europa. Lundu e a Modinha, se tornam, respectivamente, avô e avó da música sertaneja. A obra problematiza o que foi e o que está sendo a música sertaneja: de um gênero marcado pela diversidade étnico-racial, para uma versão completamente excludente aos não-brancos, principalmente após o advento do chamado "sertanejo universitário". Vozes negras, brancas, indígenas de ontem e de hoje, ecoam em diferentes espaços, a denúncia ao racismo que até então se mantinha silenciado. As várias imagens propiciam um rico arsenal para o maior entendimento do tema central do livro. Contribui para a constatação da existência de uma supremacia branca no país, diferente da dos EUA. No atual mercado sertanejo se vê a mais profunda expressão do Habitus Racial da Brancura na promoção do privilégio branco. No chamado feminejo, mesmo sob fatores interseccionais de classe, gênero e estética, as artistas brancas gozam de oportunidades e destaques não acessíveis as artistas negras e indígenas. De fato, é um "respeitável" mercado musical onde a branquitude e o branqueamento atuam livremente como engrenagens reprodutoras de injustiças e desigualdades. E você, tem contribuído para manter ou abolir este espetáculo?