Como se constituem as relações homem-animal quando a onça deixa de ser um item numa coleção de história natural e passa a habitar um mundo? O rastro da onça, de Felipe Süssekind, explora a relação complexa entre ecologia, caça, criação de gado e turismo na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul, em propriedades rurais que abrigam projetos de estudo e a preservação da onça-pintada. Através de uma pesquisa antropológica, o autor examina os mais variados aspectos da relação entre humanos e animais, detendo-se, mais especificamente, sobre a complexa trama de relações entre o homem e a onça que coabitam essas regiões. O recorte ecológico depende em geral da exclusão da espécie mais abundante da região, que é o gado. Por se alimentar do gado, a onça tem sido vista também, por muitos fazendeiros, como um problema a ser combatido. Além de detalhes sobre a preservação da Panthera onca, o leitor encontra relatos de caçadores de onça e de seus cães onceiros, que, ao lado das vacas e vaqueiras, constituem figuras centrais neste livro. Entre esses relatos, surgem as narrativas sobre os zagaieiros, caçadores antigos que enfrentavam onças com a zagaia, lança de origem indígena; histórias que carregam todo o imaginário indígena da região e se refletem na nossa cultura, por exemplo, no conto "Meu tio o iarauetê", de Guimarães Rosa.