Sigrid Nunez, ganhadora do National Book Award em 2018 por "O amigo", traz, neste novo romance, outra magistral amostra de sua capacidade de abordar, sem receio, os mais variados temas — por vezes espinhosos — de maneira elegante, poética, franca e sempre inventiva.
No estilo típico de Nunez, a narrativa se estrutura a partir da voz de uma mulher que, exercitando sua capacidade de escuta e acolhimento,
reúne relatos de episódios dolorosos que seus interlocutores estão enfrentando. Entre eles, o filho de uma vizinha descreve a perda progressiva da sanidade da mãe idosa; uma frequentadora de academia lamenta a inevitabilidade do envelhecimento; um ex-gato de abrigo, em uma cena kafkiana, compartilha sua comovente trajetória. Nessa costura de vivências, emerge o que a própria narradora está enfrentando: uma amiga com câncer terminal demonstra autocontrole ao encarar seu diagnóstico e lhe pede um favor incomum. Sem transbordar emoções nem recorrer a lições edificantes, estabelece-se entre elas uma rara cumplicidade na tentativa de lidar, de maneira racional e até mesmo cômica, com o processo de morrer.
Ao proporcionarem a experiência de se colocar no lugar do outro, as histórias revelam sentimentos comuns a todos e, com isso, oferecem um conforto duradouro e apaziguador para os desafios que todos temos de enfrentar.