Fruto de uma pesquisa de mestrado, o seguinte ensaio busca colocar em relação a escuta e a psicologia ao pensar criticamente o gesto-verbo 'escutar', tão caro a analistas e psicoterapeutas. A partir do trabalho clínico e de imagens do cotidiano, o autor procura refletir sobre o mundo subjetivo não como algo pertencente aos domínios do ego, nem como propriedades absolutas de um sujeito consciente, mas como efeitos dos encontros com a multiplicidade e as diferenças que nos cercam e nos compõem. Portanto, a relação entre escuta e psicologia não é medida pela boa vontade e empatia do clínico (psicóloga(o) ou psicanalista), mas pelo seu poder de ser afetado. Ou seja, as condições para escutar — O que podemos ouvir?— não serão indiferentes ao dispositivo clínico, pois não há neste campo espaço para neutralidades de nenhum tipo. Ao contrário, levar em conta seus afetos será parte constituinte de seu mapa ético, e isso implicará ao clínico um constante trabalho sensível sobre si, através de uma atenção que, com efeito, flutua em direção aos limites de seu próprio saber.