(...) Estamos diante de uma obra que trata de questões fundamentais da existência humana, saúde, vida, morte, doença. A obra reivindica uma análise singular dessas questões e se mostra radicalmente cravada por cristais filosóficos, lampejos poéticos, literários e, acima de tudo, afetivos. Percorrendo cada capítulo, o leitor enfrenta os paradoxos, retirando-se das formas simplistas e dualistas sugeridas pela racionalidade objetiva, e entra em uma paisagem criada pelas multiplicidades de sentidos (...), o tema se faz na radical abertura dos entremeios entre saúde e doença, pois entre morte-vida-morte-saúde-doença-saúde há um entremeio nebuloso, suspenso, que não se deixa cravar pela experiência do corpo doente ou saudável (...). Dessas questões, há um mapa corpo-vivo-morto ou morto-vivo em corpos de pacientes terminais em tratamento de câncer que põe a vida em nuvem, mesmo em ato possível de finitude (...).
(...) Lucineide Nascimento opera cortes preciosos e desenvolve uma tese tecida pelo conceito maior de Geocorpo, este instaurado pelos seus movimentos vivos, em que todas as formas saltam, vagueiam, instauram o vivente no desconhecido de si, do outro, ao mesmo tempo em que saúde e doença, vida e morte não são territórios duais nem estranhos. O geocorpo atravessa todos os outros corpos que beijam a morte, beijam a vida diariamente (...).
Maria dos Remédios de Brito
Professora de Filosofia da Universidade Federal do Pará; Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.