A figura do pai como totem e tabu é temática universal na literatura. No caso de Mathieu Lindon, a sombra do pai teria tudo para ser imobilizadora. Seu pai, Jerôme Lindon, fundador da renomadíssima editora francesa Èditions de Minuit, poderia ser uma barreira perene para toda possibilidade de literatura. Poderia ser o arquétipo da superioridade: do amor que não chega, dos livros inatingíveis. A relação entre Lindon pai e Lindon filho era, afinal e a um só tempo, amorosa e distante, cândida e fria, com o acréscimo de uma espécie de interdito com relação aos autores extraordinários publicados pelo pai.
Esta é a história de como esse arquétipo foi superado e ressignificado, por uma outra figura magnética que permeou a vida de Mathieu com a mais fiel das amizades. Michel Foucault foi, para o jovem que era Lindon então, uma espécie de professor sem hierarquia, que lhe emprestava seu famoso apartamento na rua de Vaugirard, que lhe acompanhava em viagens de ácido, que lhe concedia a calidez de uma amizade verdadeira. Que lhe ensinava, sem saber ou intencionar, no ir e vir do afeto entre amigos, o que amar quer dizer: o maestro por acaso de uma educação sentimental.
A relação com Michel, que Mathieu Lindon, com sua mão generosa, põe em permanente paralelo com a que tinha com seu pai, matizada pelas vivas descrições da vivência homossexual na sociedade parisiense da época, está aqui descrita com luto, mas também com irreverência, nesta espécie de carta tomada de ternura.
Livro vencedor do Prêmio Médicis de 2011.