O sol mal havia surgido no horizonte quando Simão puxou as redes pela última vez. Seus braços musculosos, moldados por anos de trabalho árduo, tensionavam-se a cada movimento. As mãos calejadas agarravam com firmeza as cordas molhadas, enquanto seu rosto, marcado por linhas profundas forjadas pelo sol inclemente, refletia a exaustão de mais uma noite infrutífera.
Ao seu lado, André, seu irmão mais jovem, permanecia em silêncio. Era uma espécie de pacto entre eles, pois quando o dia amanhecia com redes vazias as palavras se tornavam supérfluas. A brisa matinal trazia o cheiro salgado do Mar da Galileia, misturado ao murmúrio distante de outros pescadores que já recolhiam suas capturas mais generosas.
Simão observou suas roupas surradas e úmidas, resultado de dias difíceis. Ele sabia que não haveria muito a oferecer ao mercado de Cafarnaum e isso pesava mais do que o cansaço físico. Contudo, algo dentro dele começava a inquietá-lo, uma sensação crescente de que sua vida poderia ser mais do que redes vazias e contas pendentes.
Enquanto caminhavam de volta para casa, Simão sentia o peso da cesta vazia em suas mãos como um lembrete da escassez. André andava ao seu lado com passos lentos e olhar pensativo. Apesar do silêncio, havia algo reconfortante na presença de seu irmão. Desde crianças haviam enfrentado juntos as tempestades do mar e da vida.