Uma coisa ficou marcada em minha mente desde a primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho de Santiago de Compostela. Isso foi no ano de 1988, eu tinha apenas dez anos de idade e ninguém sabia o que era e nem onde era esse caminho, então todos os dias eu saía de manhã para ir à escola e fazia um percurso diferente para alongar o trajeto; eu só queria andar, sempre a pé, sentia de alguma forma a energia de milhões de peregrinos que há séculos percorreram e ainda percorrem aquele caminho misterioso, sem saber ao certo do que se tratava. Então, passaram-se 27 anos desde aquele ano de 88 e, um dia, trabalhando em meu estúdio, eu vi uma mulher carregando uma criança passar do outro lado da rua e, naquele momento, o sapatinho que a criança usava caiu e a mãe não percebeu; eu corri até lá e peguei o sapato para lhe entregar, e foi então que me lembrei do dia que tinha ouvido falar sobre o caminho, pois naquele dia aconteceu a mesma coisa quando uma mãe e uma criança cruzavam uma ponte e o sapatinho caiu...
Voltei para o estúdio e, nos 30 minutos seguintes, já comprei a passagem aérea, o seguro viagem e tudo que precisava para partir. Coloquei à venda meus equipamentos de trabalho para poder comprar euros, fechei meu estúdio e cruzei o Oceano Atlântico até a Europa para, assim, começar uma jornada que conto agora neste livro, uma experiência que mudou minha vida e que, por pouco, quase a tirou de mim; só não tirou porque encontrei anjos pelo caminho, anjos que hoje chamo de amigos.