Em O Pêndulo da Noite encontramos um Marcos Rey em plena forma: irônico, cético em relação à humanidade, por vezes debochado. As narrativas deslizam como um carro numa pista de alta velocidade. Texto exato, sem palavras a mais e sem preciosismos, a gíria bem empregada, quando necessário o palavrão. Diálogos vivos. Personagens marcados pela existência, ásperos, prisioneiros do sistema de vida da cidade grande moderna (São Paulo), alguns vivendo em quitinetes mínimas, fábricas de neuroses, ou em pensões baratas. São vigaristas de todas as espécies, assaltantes, prostitutas, psicopatas, jornalistas que mal ganham para comer, espertalhões, artistas de sucesso, ingênuos (o que seria dos espertos sem eles?). E também ricaços da alta sociedade, satirizados de maneira implacável. Neste mundo quase pitoresco, a um dedo da marginalidade, predomina um sentimento de amarga frustração e de permanente solidão, uma absoluta incapacidade de comunicação entre os seres humanos, perdidos na selva de pedra, como animais de espécies diferentes. Cada um procura enganar o outro, na busca de suas conveniências, vantagens pessoais ou prazeres imediatos ("Mustang Cor de Sangue"). Há os frustrados, que perdem qualquer escrúpulo para alcançar seus fins, mas que podem apenas estar cavando a própria ruína, como no sarcástico "O Dicionarista". Mas, o autor acredita que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto houver otários como o personagem de "O Bolha", ou figuras com um resto de sentimento humano como o herói de "O Cão da Meia-noite", um dos mais belos contos de animais da literatura brasileira, ponto alto do livro, ao lado de "Eu e Meu Fusca". Um livro com "a força de uma denúncia", como observa João Antonio, que achará o seu lugar "aos trompaços, socos e pontapés", tal como as coisas acontecem na sociedade brasileira atual.