A ditadura civil-militar brasileira ainda é uma ferida aberta em nossa sociedade. Provas disso são as diversas heranças que o período deixou e que nos assombram ainda hoje, afinal, uma injustiça do passado que é atenuada ou justificada no presente torna-se uma injustiça no presente e, portanto, uma ameaça real de que injustiças sejam cometidas novamente, considerando-se que uma injustiça contra um indivíduo é uma ameaça contra todos. Entendemos que o campo midiático do país e a própria maneira de a mídia lidar com a política sejam algumas dessas heranças, construindo imagens a serem difundidas como verdades e mercantilizando a informação em benefício próprio e em uma lógica corporativa empresarial.
Esta obra busca compreender a relação entre mídia, memória e política nos períodos pré-eleitoral e eleitoral das eleições presidenciais de 2010, para captar como se dá a representação memorial do passado na sociedade brasileira acerca do regime militar (1964-1985), período que deixou marcas profundas em nossa história. Escolhemos analisar a cobertura feita pelo jornal paulista F. de S. P., pelo fato de ser um dos principais meios de comunicação do país a cobrir as eleições nacionais, e por ter apoiado no passado o próprio regime ditatorial que abateu a nação após o golpe de 1964. Analisamos o conteúdo, em todos os fragmentos presentes no jornal, por um período de oito meses, elucidando como o jornal retrata os candidatos, construindo suas imagens a partir de seus respectivos passados opositores ao regime.