Imaginei produzir este trabalho a partir de depoimentos de homens que viveram o mundo do futebol em seu tempo. Que estavam dentro dele. Homens cuja atividade se desenvolveu em torno da bola. Que viveram com o olho nela. Que a conheceram por dentro e por fora. A bola branca, loura ou irisada. A da pelada e a da Copa do Mundo. Que conheceram os que a impulsionaram rumo ao Sol e os que atuaram nos bastidores das agremiações. Homens para os quais não havia segredos que não os tenham surpreendido. Para os quais os mistérios da vida esportiva tornavam-se transparentes como a fantasia.
Um livro feito por depoimentos de nomes famosos da crônica esportiva brasileira, dos cronistas de futebol que, em suas páginas, revelaram fatos e opiniões cujo entendimento somente se adquire no caminho de longos anos de trabalho aliado à capacidade de observação — às vezes, à intuição — e, sempre, à inteligência e à compreensão do que viram.
Uma linha nele escrita é, muitas vezes, o resultado do que foi vislumbrado num segundo; ou testemunhado, sentido e analisado da visão de milhões de jogadas, resultado da presença em mil campos distantes, durante longas viagens. Às vezes, uma frase condensa a sabedoria adquirida em centenas de partidas; resume o conhecimento de mil gramados e mil craques.
Para escrevê-las, foi preciso que eles tenham visto Júlio Kuntz, Marcos Carneiro de Mendonça ou Carlos Castilho agarrar uma bola. Foi preciso ter-se extasiado ante um Domingos da Guia ou um Nilton Santos. Haver testemunhado um dos 1 mil 329 gols de Friedenreich. Ter visto Garrincha driblar, uma bicicleta do Diamante Negro, compreendido a ânsia de perfeição de um Heleno de Freitas.
Foi preciso ver um perna-de-pau numa pelada ou Pelé na Seleção Brasileira. Foi necessário ouvir o trilar do apito na boca de Armando Marques. Ter presenciado a torcida ululante de um time popular ou ouvido o choro do torcedor ferido de morte.
Foi preciso ter visto mil feitos, festejado mil vitórias, sofrido mil derrotas. Foi preciso ter-se tornado o homem que olha a bola com o fascínio do menino que espia o pássaro encantado. Foi preciso aprender a amar o jogo e sentir o Sol. Foi preciso, sobretudo, amar o público a ponto de aceitar a sobrecarga em seu trabalho diário, para escrever dando ao leitor ciência do que testemunhou, do que sentiu, do que sofreu, do que o emocionou e alegrou — enquanto tinha o olho na bola. Foi preciso, enfim, ser o cronista esportivo, consciente da sua missão.
Daí, esta obra. Que o leitor a receba como algo que lhe pertence.
(Milton Pedrosa, criador da Editora Gol)"