As escrituras de Fernando José Karl são um patrimônio considerável de sua fértil imaginação. São seus abismos em formas de palavras, assim como suas pinturas lembram paisagens caligrafadas. Suas figurações aludem a coisas que são o que são, mas também podem ser outras, o um é o outro de Rimbaud. Seus mestres são Wallace Stevens, Manuel Bandeira, Sylvia Plath, e, por que não, a chuva.
O náufrago no istmo de Wu espraia espasmos como as notas dissonantes de Charlie Parker. Pegar o pássaro em pleno voo, o onírico em plena deambulação e fazer com isso fábulas insólitas, riscadas, rabiscadas, significadas. Fábulas do reino animal, vegetal e mineral, objetivação de uma escotilha, de um tango, de uma orquestra. O planeta na hora da sesta, do ócio, do sonambulismo criativo que olha pela fresta do olho.
Karl tem razão: só as tempestades não envelhecem no istmo de Wu. Elas viram aluvião. Viram o menino Karl dando cambalhotas, o mundo de pernas ao avesso, e isso é arte, o que se mede sem começo.