João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, ou “João do Rio”, publica em 1911 uma coletânea de contos, intitulada Dentro da noite, que revela uma clara inclinação de natureza estética aos trabalhos de escritores icônicos do decadentismo europeu, contendo vasto grupo de tipos e arquétipos comuns à cultura finissecular carioca. Através das histórias descontínuas e de aspecto fragmentário de Dentro da noite, busca-se compreender as indagações, expectativas, frustrações e agonias do burguês moderno, peça ícone da Belle Époque do Rio de Janeiro, indivíduo que não encontra em lugar algum uma alma solidária disposta a dividir o peso sufocante da existência moderna. E, contudo, estas mesmas indagações, frustrações e agonias são crias tanto da personagem que as nutre em seu cerne quanto do espaço urbano que as abarca, consideradas como algo digno de análise mais atenta e aproximada, considerando-se os fenômenos psíquicos sem desconsiderar-se os sociais ou mesmo os literários. A presente obra disserta por várias áreas do conhecimento (notadamente a psicanálise e a teoria literária) para melhor compreender esse mostruário de tipos monstruosos criado por João do Rio à sombra da literatura pré-modernista brasileira.