O poeta Lucas Rolim estreia com o instigante O Mirábolo, um livro que chama a atenção pelo cuidado de sua elaboração e pelas nervuras que o compõem. As epígrafes são belas e fundamentais para orientar o leitor pelos capítulos, articulados em 2 partes – "Madrugada Incendiária" e "Manhã de Pássaros". A poesia de Lucas aproxima a matéria carnal do fluxo onírico – combinação tão importante feita por escritores valiosos do século XX.
Lucas é um jovem poeta que não tem medo de se arriscar na escrita. Tanto é que se "risca" com os acidentes e abismos das palavras-experiências. Ele se lança com o corpo/espírito na construção de um universo imagético e sensorial, e a sua juventude inunda a poesia de potência e velocidade – agilidade que utiliza para desenvolver seu "ofício de espantos" na "lavoura mística".
O Mirábolo é uma espécie de malabarista, de inventor fantástico, que, no jogo das sutilezas, transpõe os limites entre o claro e o escuro, e torna visível aquilo que não tem forma definida; traz o avesso das coisas e desloca os conceitos de seus lugares usuais. Lucas Rolim exercita a arte de expandir o real pela ficção, através do fluxo do vir a ser que as palavras e as imagens comportam.
Este livro é o ponto de tensão que desdobra e onde convergem o personagem (mágico, mirabolante) e o próprio universo criativo (o livro em si). Este exercício é um truque em que o poeta se impulsiona como criador. Lucas Rolim se propõe a não seguir os caminhos fáceis e penetra nas águas densas da linguagem.
O jovem poeta não se rende ao que boa parte de sua geração faz – crônicas sem criatividade do cotidiano ou textinhos engraçados. Ao contrário, busca a poesia em sua dimensão selvagem e profunda, em uma dimensão ritualizada com a palavra.