Maurício, o personal trainer, já dava por certa a vitória de seu aluno no torneio. Tinha até uma explicação elaborada para a superioridade dele nesse esporte de tabuleiro. Como perdera a visão, que é o sentido que mais consome processamento do cérebro, ele ficou então com muito processamento livre pra aplicar durante o jogo. E Maurício podia citar uma longa lista de cegos que superdesenvolveram alguma outra capacidade. Os melhores massagistas do mundo são cegos, ele sempre dizia. E afirmava que Seu Tomé era um superjogador de xadrez. Ninguém no mundo poderia vencê-lo. Na manhã seguinte, conquistaria aquele torneio pequeno. O primeiro. Depois, inscreveria o aluno e amigo pessoal em torneios maiores. Estaduais, nacionais, internacionais. Até que Seu Tomé fosse o melhor enxadrista do mundo. Parecia tão óbvio.