Para Platão e a tradição platônica antiga, até Proclo inclusive, a morte é certo esforço contínuo – pela educação nas ciências matemáticas, na ciência da dialética e no uso dos prazeres – de separar a alma do corpo, onde ela se encontra dispersa, e concentrá-la em si mesma. Se a filosofia é a assimilação da alma em si mesma ao inteligível, palavra que compreende os objetos matemáticos, as Ideias e o mundo, então não há filosofia sem morte. Por sua vez, a justiça é o efeito, primeiro para a alma, depois para a cidade, da assimilação da alma ao inteligível. Sendo assim, não há justiça sem filosofia e, principalmente, não há justiça sem morte. Por isso, o verdadeiro juiz deve julgar nu, despido do corpo, dos erros e dos encantos do corpo, que viciam o julgamento justo. Por isso também, o verdadeiro juiz deve ser filósofo, o que significa: o verdadeiro juiz deve se exercitar a morrer.
Este livro mostra que o conceito de morte como purificação da alma, órfico e pitagórico na origem, serve a Platão de fundamento da filosofia, de condição da justiça e de instrumento de crítica aos juízes atenienses do século IV a.C. – e, por que não, aos juízes brasileiros do século XXI.
Encerra a obra apêndice que contém tradução e comentário do diálogo "Por que Platão disse que Deus sempre geometriza", de Plutarco, com texto grego à frente.
O livro conta ainda com prefácio de autoria do Prof. Eduardo Bittar (Direito-USP) e texto de orelha de capa escrito pelo Prof. Roberto Bolzani (Filosofia-USP).