Energia, economia, sociedade e telecomunicações na Era da Informação.
"Marta Peirano é uma das raras jornalistas que realmente se especializou na interseção de tecnologia e poder."
— Edward Snowden
A rede não é livre, aberta ou democrática. É uma coleção de servidores, switches, satélites, antenas, roteadores e cabos de fibra óptica controlados por um número cada vez menor de empresas. É uma linguagem e uma burocracia de protocolos que fazem as máquinas falarem, regras de trânsito que direcionam o trânsito, microdecisões que definem sua eficiência. Se considerarmos um único projeto chamado Internet, podemos dizer que é a maior infraestrutura já construída e o sistema que define todos os aspectos de nossa sociedade. E mesmo assim é segredo. Sua tecnologia está escondida, enterrada, submersa ou camuflada; seus algoritmos são opacos; suas microdecisões não são rastreáveis. Os data centers que armazenam e processam as informações são escondidos e protegidos por armas, criptografia, propriedade intelectual e arame farpado. A infraestrutura crítica do nosso tempo está fora de vista. Não podemos entender a lógica, intenção e propósito do que não vemos. Todas as conversas que temos sobre essa infraestrutura são na verdade conversas sobre sua interface, um conjunto de metáforas que se interpõe entre nós e o sistema. Uma linguagem projetada para ofuscar nossa compreensão dessa infraestrutura. O inimigo conhece o sistema, mas nós não.
O inimigo conhece o sistema explica por que a ferramenta mais democratizante da História se tornou uma máquina de vigilância e manipulação em massa a serviço de regimes autoritários. Só assim poderemos transformá-lo no que mais precisamos: uma ferramenta para gerenciar a crise que se aproxima da maneira mais humana possível. Não temos um segundo a perder.