De que maneira nossa incômoda condição de inacabamento tem sido vivida por nós na atualidade? E de que modo essa vivência está relacionada com o reconhecimento da teatralidade que nos constitui? Tais questionamentos tecem o fio condutor do presente livro, fruto da pesquisa de doutorado da autora defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social na UERJ. Através de um diálogo entre o campo da Psicologia fenomenológico-existencial Sartriana e o campo da arte teatral, o livro parte da tese de que para que a incompletude deixe de ser uma ameaça, e possa ser vivida como uma potente "força", é fundamental que o inacabamento seja experimentado como condição inseparável do existir humano. Ao longo da pesquisa, a autora mostra que a fuga do reconhecimento de nossa incompletude, fuga essa bastante exacerbada no contexto contemporâneo, faz com que nos identifiquemos com ideais de "eu" cristalizados, gerando um campo propício para algumas formas de sofrimento psíquico típicas de nossa época. Como um contraponto a esse engessamento de subjetividades, a arte teatral é aqui pensada como um lugar em que se desvelam outras formas possíveis de lidarmos com a teatralização de nós mesmos em nosso viver cotidiano. Veremos então que, no campo da experiência artística teatral, a lucidez sobre o inacabamento de nossas subjetividades é sustentada de forma bastante privilegiada, possibilitando ao sujeito contemporâneo potentes alargamentos nos modos de ele se fazer no mundo hoje.