Enoque F. Cardozo mexe com a sensibilidade do leitor ao apresentar uma história carregada de mistério, inventando, mistificando e recriando personagens, objetos e criaturas que envolvem o leitor do começo ao fim. Nesse conto narrado em primeira pessoa em forma de memória (ou relato), somos conduzidos pela jornada de um homem desesperado que passa a revelar o efeito, a causa e consequência na mesma medida em que a loucura o mantém refém dentro de sua própria mente. Escrito em 2014, "O Gato" é alvo de análise textual. Repleto de simbolismo, o conto é um convite para que os seus entusiastas façam suas apostas acerca da intenção do autor com determinados pontos e características que ele trabalha. Independente das suposições que os leitores façam a respeito da história, é indiscutível que mesmo para aqueles que não gostam desse tipo de leitura irá se render aos mistérios contidos no enredo. Ainda mais quando o autor vai até o espaço limítrofe da consciência humana para cobrar dele um posicionamento quanto à questão de ser um homem racional ou supersticioso. Mais do que isso, ele também cobra do seu leitor uma análise dos seus sentimentos. É tão forte esse ponto, que é impossível não se estarrecer diante do modo magistral que ele transformou uma relação comum – entre bicho de estimação e dono – em algo chocante. Leório Campos de Briho. 2016