Luiz Fernando Abreu é um desses autores que sabe como dar o recado. Sendo pedagógico, bem humorado, didático – pudera, é professor! – , ele mostrou o quanto uma história verídica, de muito pouca repercussão, passada nos anos 80, num dos bairros mais tradicionais do Rio, o Anil, pudesse se tornar um instrumento tão educativo. Quando comecei a lê-lo, juro que acreditei que, para nos mostrar o Anil, geográfica, social e espiritualmente, Luiz Fernando deveria, mesmo, ter consumido 90 por cento de transpiração em sua pesquisa. No entanto, quando ri e chorei, e depois refleti o quanto esse livro era encantador para toda gurizada (de 8 a 80 anos), vi que estava enganada: como seu talento em lidar com os sentimentos e com as palavras era algo tão pessoal, concluí que nem foi 90 por cento de inspiração e 10 por cento de transpiração para escrevê-lo, mas 99,9 por cento de inspiração e somente 0,1 por cento de transpiração. Porém, como esse livro não é de porcentagem, e sim de emoção, tudo o que quero dizer para quem vir a ler esta página, é que, como professora e coordenadora pedagógica, que sempre transpira muito para indicar os melhores livros para meus alunos, dessa vez não terei o menor trabalho, porque O Garoto do Anil é, sem dúvida alguma, um livro 100 por cento encantador. Zilma Laport