A despeito de ter se indisposto com os Philosophes de seu século, Rousseau reivindica para si a imagem de "um amigo da verdade", abordando o homem e a sociedade, em seus âmbitos morais e políticos. Este livro procura compreender a interdependência entre esses âmbitos no pensamento do autor genebrino, mas a partir de duas categorias que também são, a nosso ver, indissociáveis nesse pensamento e perfazem, senão toda, ao menos grande parte de sua obra geral. Trata-se das dimensões estática e dinâmica, que buscamos identificar nas teorias do filósofo, bem como em seus objetos e sujeitos. Para introduzirmos a categoria da estaticidade, lançamos mão de uma ampliação da noção de escala contida no Livro V do Emílio, noção essa que, dentro do edifício teórico de Rousseau, assume os caracteres de critério de medida, em um sentido, e de princípio orientador, em outro. Além disso, para entendermos o dinamismo e sua relação com o estático, é fundamental uma análise dos desdobramentos da ideia de natureza, que manifesta em si essas duas dimensões. Destacamos, assim, que o filósofo dedica sua obra a observar o homem e a sociedade em suas naturezas, mas mediante a utilização de uma escala estática como instrumento, por um lado, e a admissão do caráter dinâmico dos sujeitos, por outro, o que leva sua obra a não se reduzir à simples descrição de condições humanas e sociais degradantes, se impondo antes como uma robusta teoria do 'poder ser' em face do 'dever ser'.