Tinha as pernas longas, misteriosas. Paisagem a desbravar. Acima delas existia uma mulher com a cabeça nas nuvens e o coração nos lábios. O que queríamos dela? Apenas conhecê-la. Embriagar-se em seu mundo. Quando pisava a rua, a rua toda se abria em desejos. Mas, seu sorriso não era egoistamente escondido, ao contrário, era distribuído espontaneamente com todos. Ficávamos de boca aberta. Mas, o nosso desejo não era de possuí-la, era de entendê-la. Ela era pura embriaguez, pura vida. Franca, aberta, disponível. Ela se repartia fartamente com tudo o que existia. E, tudo só começava a existir quando ela aparecia. Entretanto, parecia intocável. Na verdade, parecia uma aparição, irreal. Será que ela existia mesmo ou era uma ilusão coletiva? Não sabemos da existência de seus seios, cintura, nádegas, sexo. Só a víamos por inteiro. E, ela, inteira, era pura luz. Iluminava o dia, o riso, o bom dia. Mas, Beatriz tinha uns olhos de arregalar. Acendiam-se na noite. Clareavam o dia. Ela era lua/sol. Cheia, inteira, veia, magia. Beatriz era pura poesia. Utópica, real, melodia. Beatriz era a vida que a gente não vivia. Pulsava firme, meiga, alegria. Passamos toda a nossa existência a procurá-la. Mas, a procurávamos onde não existia. Era mágica, deslumbrante, feiticeira. Onde morava? Onde se escondia? Vinha da noite? Vinha do dia? Era boa? Era má? Ninguém o sabia, mas era a amante de todos. No entanto, Beatriz só aparecia quando Alice se olhava nua no espelho. Beatriz só aparecia quando Alice se refletia. Mas, será mesmo que Beatriz só existia nos olhos de Alice? A verdade é que Beatriz era mais real do que Alice.