O Enigma Tiradentes é um livro que revela a saga de um obstinado. Se sua leitura não esgota as muitas dúvidas a desafiar novas e sucessivas pesquisas, a publicação dessa obra não poderia vir em momento mais oportuno. O Brasil do limiar do século XXI ainda não logrou alcançar a soberania e a prosperidade decorrentes de suas riquezas e recursos. Permanece preso à lógica do grande capital, que já foi mercantil, como no tempo de Tiradentes, e hoje é financeiro e especulativo, a sangrar povos submetidos aos mais trapaceiros mecanismos de um sistema que continua a nos oprimir. Não sendo uma biografia convencional, pois não foi essa a proposta original do autor, não deixa de possuir os ingredientes desse gênero histórico, hoje, reabilitado pela História Política que se inovou ao longo das últimas décadas. E não poderia ser diferente a quem se propõe a tratar dos eventos da Conjuração Mineira. Esta Inconfidência, para os contemporâneos identificados com os poderes coloniais, acabou gravitando em torno de um nome, usado para justificar os rigores da repressão então desencadeada e, com isso, criar as condições para inibir outras eventuais tentativas de rebelião contra as Cortes portuguesas e seus representantes na Colônia. Do questionamento das explicações formais ao exame detido da documentação e das contribuições historiográficas, há de tudo no texto do professor Miguel Aparecido Teodoro. Da imagem do herói construído ideologicamente à indisfarçável identidade com aquele que se sujeitou à ira dos donos do poder para, com isso, reforçar na imaginação coletiva o papel de mártir de uma independência de um longo porvir, o autor navega ao sabor dessas tentações. Tal circunstância longe de tornar seu texto comprometido, possibilita um diálogo profícuo com o leitor interessado. Do conteúdo desse estudo não existem certezas, e as dúvidas transformam-se em indagações necessárias, sem as quais o episódio da Conjuração e a participação de Tiradentes não teriam a importância que todos conferem-nas.