Com sua prodigiosa imaginação, o escritor inglês H. G. Wells (1866-1946) cria, em obra de 1910, um futuro sombrio e distópico, muito diferente da era vitoriana em que viveu, considerada por ele mesmo um período de progresso, sobretudo científico, e cordialidade social.
Enfaticamente político, O Dorminhoco conta a história de Graham, um homem na casa dos 30 anos, herdeiro de uma grande fortuna, mas que vive uma vida desmotivada e sofre de uma insônia crônica. Quando finalmente cai no sono, dorme durante 203 anos e acorda numa sociedade totalmente diferente da que conhecia. Para sua estupefação, o patrimônio que possuía o tornou uma espécie de dono do mundo e alvo de uma idolatria mística, graças a investimentos e aquisições feitos durante seu sono.
Neste livro, a veia satírica de Wells aparece com vigor, ao descrever um mundo em que uma elite desfruta de ambientes sofisticados em metrópoles hipertrofiadas, com intensas luzes brancas, elevadores, domos, caminhos móveis e estruturas de vidro, enquanto operários vivem em estado de semiescravidão em subterrâneos escuros, recebendo comida em troca de trabalho.