"O dom de ver atrás do morro", além de título deste livro, qualifica muito bem a pesquisa realiza- da para compreender quem são os agentes prisionais que trabalham em um manicômio judiciário de Minas Gerais. Seu olhar sensível e atento nos permite entender como e porque esses profissionais de custódia ressignificam as suas atividades, deslocando-as da manutenção da ordem para a garantia do cuida- do, acolhendo uma população que, além de não entender o que faz ali, muitas vezes não tem perspectiva de ir para fora das grades. Nesta reinterpretação do trabalho, o agente prisional do manicômio judiciário transforma o preso em paciente e dá outra conotação a sua tarefa. Seu ofício perde a acepção de lixeiro da sociedade passando a ser visto, pelo próprio trabalhador, como acolhimento de incapazes. A atividade laboral passa a ser repleta de significados morais que a enaltece ao invés de desmerecê-la. Todo esse percurso de idas e vindas - do sistema prisional, da carreira de agente prisional e da ressignificação que o trabalho no manicômio judiciário suscita - fazem do livro de Rodrigo Monteiro uma leitura obrigatória. Considero essa obra indispensável para todos estudiosos das prisões e, principalmente, para quem esteja bus- cando um romance sobre as paixões que somente o trabalho pode despertar. Ludmila Ribeiro – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)