Nessa pequena obra-prima ambientada na Havana do início da década de 1930, os protagonistas conhecem uns aos outros, mas desconhecem a trama diabólica que os une.
Expoente máximo da prosa erudita e elegante do cubano Alejo Carpentier, esta novela breve nada tem de singela. Pelo contrário: seus desdobramentos, implicações e alusões são inúmeros e escondem significados que somente a melhor literatura é capaz de engendrar.
O cerco — cuja ação, que dura pouquíssimas horas, se desenrola em uma Havana mergulhada na incerteza após a queda do ditador Gerardo Machado em 1933 — apresenta dois personagens que à primeira vista não têm qualquer relação. Um deles, encarregado da bilheteria de um teatro, é aficionado por música e antagonista dos ricos incultos que frequentam os concertos. Outro, ex-integrante das fileiras da luta comunista, é um desgarrado que procura desesperadamente o melhor jeito de escapar de uma Havana que parece como que sitiada — e o cerco, numa contagem regressiva que se torna cada vez mais frenética e sufocante, começa a se fechar sem qualquer piedade contra ele.
Nas periferias e sombras por onde se movem esses personagens misteriosos, o sórdido e o sublime se mesclam numa espécie de concerto: um crescendo que se desenrola em um tempo bem marcado até chegar ao seu ápice, a um desfecho tão esperado quanto imprevisível.
"Havana, com seus esplendores e misérias, é metáfora de um palco em que o fracasso, a solidão e a culpa dos protagonistas encenam mais uma tragédia do Teatro do Mundo. Uma leitura atenta une os fragmentos dessa narrativa, em que a erudição e a linguagem exuberante são indissociáveis do estilo do grande escritor cubano." — Milton Hatoum