O livro policial é, fundamentalmente, um jogo. Como o autor se acha mais esperto que você, elabora uma narrativa sedutora e quase sempre embute algum tipo de trapaça. O ás na manga do jogador. O dado viciado. Se você não percebe o ardil, o autor vence a partida e isso é ótimo: a vitória de quem escreve é o prêmio de quem lê romances policiais.
"O Caso Helena" propõe um tipo diferente de jogo. É claro que o autor tem os seus recursos. Gunther Schmidt de Miranda escreve para ganhar, mas conta a história por um único ponto de vista: o do policial civil Marlos Wagner. É com ele que você irá trabalhar passo a passo na investigação.
Marlos não tem o gênio extraordinário de Sherlock Holmes. Nem a ciência ilimitada de CSI. Marlos é um gaúcho a serviço da policia do Rio. Ele só tem malícia, método e um caráter inflexível ("Eu não desisto nunca!").
Mas não é esse o diferencial do livro.
Como seu personagem, o autor é policial. Todas as coisas que você não quer ver, ele já viu. Enfrentar a violência que você teme é a rotina dele. Talvez por isso, Gunther Schmidt de Miranda tenha um estilo tão direto e áspero. Na gíria dos policias, seco como "chumbo cru". Talvez por isso, o livro esteja carregado de verdade. E, talvez por isso, a capitã intendente Helena Marinho seja assassinada na Base Aérea do Galeão logo na primeira página. Sem preâmbulos ou embromação. O resto é dúvida. E o mais que atormenta o dia a dia de um país cruel.
A única certeza é que você vai querer jogar.
Ricardo Labuto Gondim – Autor de "Deus no labirinto" e "B"