O sistema político atual engendrou na sociedade uma espécie de concordância natural com o uso da raiva, do individualismo e da estupidez; do século 20 pra cá é notável que as virtudes cristãs estão sendo esquecidas e tornando-se como que uma desvantagem diante das virtudes neocapitais. A verdade, aos poucos, segue adquirindo outra estética, e aquele indivíduo simples, sereno e humilde parece não ter outra saída para validar a luta pela sobrevivência que não passe pelo uso constante da capacidade de manifestar o "cão interior", que se mostra tanto individualista e egocêntrico, quanto soberbo e mentiroso. O brasileiro comum não é mais humilde e forte de espírito, pois as extravagâncias da alta sociedade também são respiradas — e aspiradas — pela maioria da população. Desse modo, o atual salvador precisa ser reconhecido como o seu oposto cristão: o cão.
O Brasil atual tem muito de supercapitalismo, onde o homem é lobo do homem. Somos referência mundial quando a verdade de um é a mentira do outro; logo, todos precisam de alguma dosagem de cão na alma, pois corre-se o risco da transcendência das desvirtudes. Esse é o instante em que o redentor torna-se marginal, quando o herói torna-se bandido, quando somente o ímpio ganha. Assim, todos precisam ser cães… Se a mão divina não castiga, a inveja dos homens consegue ao menos ferir as asas dos anjos.