O "Cão da Meia-noite" reúne os melhores contos de Marcos Rey. O cenário é São Paulo, não a cidade dos executivos, do comércio intenso, das grandes empresas situadas na avenida Paulista, mas uma São Paulo que começa a viver quando a noite cai, habitada por uma fauna humana exótica aos olhos dos que vivem de dia, seres atormentados, quase de outro mundo, frequentadores de bares, em busca de uma aventura sexual barata, alcoólatras, a gente da noite. Nos oito contos do livro a presença dominante é a solidão humana das grandes metrópoles modernas, e os problemas dela decorrentes: a incomunicabilidade entre as criaturas, o vale-tudo para se conseguir dinheiro ou chegar ao prazer, o egoísmo, a esperteza em todos os seus matizes, registradas com ironia, sarcasmo, humor corrosivo. Com domínio absoluto da técnica do conto, sabendo como desenvolver uma história, prender o leitor e só soltá-lo na última linha, Marcos Rey apresenta, de forma quase impiedosa, os personagens de seu mundo. São escribas de alma contraditória, oscilando entre a piedade e a crueldade, mas ainda com um resto de sentimento humano, como o notívago de O Cão da Meia-noite, obra-prima, um dos mais belos contos de animais da literatura brasileira; o maníaco desequilibrado de "Eu e Meu Fusca"; a pequena odisseia de um publicitário desempregado ("O Bar dos Cento e Tanto Dias"); uma noite de desencontros numa reunião de gente endinheirada ("A Escalação"); a desilusão do motorista de táxi interessado em política ("O Adhemarista"); a festa na mansão de um magnata, com farto consumo de álcool e lança-perfume ("Soy Loco por ti, América!"); a noite felliniana de alguns amigos até a madrugada ("Traje de Rigor"); o jogo de engana-engana entre um artista e seu secretário, pela posse de uma mulher ("Mustang Cor de Sangue"); retratos do vazio existencial da gente da noite.