Arthur Schnitzler amplifica os ecos da cena cultural vienense: o universo liberal de seus artistas e escritores. de doutores e cientistas. desesperadamente em busca de uma escapatória para as tensões da virada do século. Em O caminho para a liberdade. um dos grandes romances alemães da era burguesa. ele traça um panorama muito bem detalhado da sociedade vienense à época. Assim como um estudo sobre o judaísmo. Ele mesmo um judeu. Schnitzler ouve aqui os hebreus da capital do Império Austro-Húngaro. suas respostas aos ataques e às insinuações de um antisemitismo crescente. Considerado sua obra-prima. O caminho para a liberdade traça o retrato de uma sociedade incapaz de discernir a cacofonia de suas próprias vozes. Publicado em 1908. ano de grande significado para os judeus de Viena — foi neste ano que Adolf Hitler chega à cidade. onde descobre os judeus e o preconceito contra estes — é o mais autobiográfico de seus textos. Vários episódios de sua vida são ficcionalizados aqui. Mas mais que o enfoque político e pessoal. esta é uma obra de extremo peso literário. O primeiro romance judeu-alemão de importância. Uma novela de personagens em rota de fuga de Viena — para Alemanha. Itália. Índia. Palestina. América — e que prova o quão completamente preso à cidade estava seu autor. Uma cidade que conhecia e descrevia em seus detalhes mais sutis. Um mundo de duelos e de teorias. Um ambiente prenhe de expectativas. de sensualidade. de perigo. de música e de cultura. de grandes discussões filosóficas. políticas e sociais. A Viena de Schnitzler é um mundo de conexões perdidas. onde as pessoas encontram sentido de comunhão apenas no teatro. E os personagens atraídos a uma apresentação de Tristão e Isolda. onde se ligam a Wagner. mesmo que incapazes de se ligarem uns aos outros. Diferente dos amantes trágicos. Schnitzler não permite nem poções e nem símbolos para obscurecer uma elaborada patologia social.