Esta obra, dotada de perspectiva audaciosa na forma de pensar e pesquisar a infância e a brincadeira, é resultado da tese de doutoramento de Adelaide, realizada no Programa de Pós-graduação em Psicologia, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O estudo aconteceu no território do Complexo de Favelas da Maré, que constitui, produz e encena as brincadeiras das crianças nesse lugar, visto por muitos não apenas como distante e precarizado, mas empobrecido simbolicamente. É como se, em face da presença enigmática do brincar humano, a autora pudesse estabelecer em relação a seu tema uma tensão permanente entre o que se sabe sobre o brincar e a incomensurabilidade do não se saber sobre essa mesma temática. Afinal, de que é feito o brincar nesse território? Como brincadeiras, e outras atividades infantis, entretecem os sentidos e as esperanças de crianças e adultos na Maré? O desafio investigativo significou descolonizar a pesquisa sobre brincadeiras, pondo em suspenso o viés romantizado e burguês com que essa temática quase sempre foi investigada. Este trabalho não é tão somente um tratado científico singular sobre o brincar na infância, é um precioso presente que atesta o valor e a relevância do conhecimento produzido nas universidades públicas brasileiras na direção de que possamos nos conhecer como brasileiros e brasileiras, desvendar as difíceis questões que minam a nossa história e vislumbrar formas de resgatar a nossa dignidade e humanidade.