Previno os leitores que não me animei a publicar esta obra com o intuito de explorar o sensacionalismo, gênero de jornalismo esportivo, infelizmente, muito em voga em certa imprensa que, de outro modo, não teria público e que, no entanto, muito mal faz ao esporte, que necessita de quem eduque e oriente os seus praticantes, torcedores e dirigentes.
Nada de escândalos contém esta obra, que reúne todo o meu trabalho jornalístico na Copa do Mundo de 1938, na qual estive presente como representante de “A Gazeta”.
Como profissional, esforcei-me para servir os leitores do meu jornal da melhor maneira possível. Consegui algo, descrevendo, embora modestamente, as peripécias do magno campeonato, a campanha inesquecível da Seleção Brasileira, enfim, os principais acontecimentos da competição.
Como membro da delegação e como esportista, cumpri igualmente o meu dever. Obedeci os chefes com a disciplina que se impunha e tive, de sua parte, as maiores atenções. Fui amigo de todos os demais membros e, igualmente, tive a ventura de contar com a amizade de todos.
Os que se integraram na delegação com o senso da responsabilidade e espírito da disciplina, regressaram muito satisfeitos, sem queixa de ninguém, certos de terem cumprido o seu dever. Não foram todos. É pena.
Em campo, porém, todos os nossos jogadores deram tudo para vencer. Foram bravos e, se a sorte, numa só tarde, não os ajudou, não é motivo para esquecer o que fizeram nas outras quatro jornadas.
Justamente, em nossas crônicas, não nos deixamos envenenar pela decepção de um infeliz revés para descobrir, em pequenas coisas, grandes defeitos; para transformar detalhes de pouca importância em medonhos escândalos. Não saí do meu próprio terreno.
Para muitos, o Campeonato Mundial da FIFA [N. do E.: A Editora alerta ao leitor que, a partir daqui, nos adequaremos ao nome popular hoje adotado para esse certame, utilizaremos a expressão Copa do Mundo, que é como a competição ficou mundialmente consagrada] não passou de pretexto para notícias espalhafatosas e excitantes, série de escândalos, acusações descabidas etc. Triste e lastimável, a atestar uma mentalidade bem infeliz para o esporte. Esse gênero de jornalismo esportivo já deveria estar desprezado, abolido entre nós, mas deploravelmente ainda faz sucesso.
Com a consciência tranquila de ter cumprido meu dever, regressei da Europa. Fiz tudo para bem servir os meus leitores e, de fato, tive a grande satisfação de constatar a boa aceitação que meus trabalhos tiveram; não só em São Paulo, como nos demais centros do Brasil, onde chega “A Gazeta”. Por isso, mais me animei a publicar esta obra sobre a nossa campanha na III Copa do Mundo.
Alguns dos meus colegas, e não poucos amigos, me estimularam a levar a efeito esta obra, dado o êxito que alcançaram minhas correspondências. Não me furto, embora pareça vaidade, ao desejo de publicar, a seguir, algumas das cartas, das várias que recebi após o meu regresso, que contribuíram de vez para me decidir a lançar esta obra. (Thomaz Mazzoni)"