O livro tem o objetivo de discutir como a prática da letra de João Guimarães Rosa, em seu romance Grande Sertão Veredas, deixa emergir o conceito de lalíngua, forjado por Jacques Lacan. Para esta discussão, inicialmente, será destacado o caminho de Freud e Lacan com a literatura e como eles a tomam como uma emergência do inconsciente em seu funcionamento. Recusando adotar a postura de um campo externo que analisa a arte, o trabalho aqui desenvolvido visa estabelecer como a obra literária, como um resto de formação inconsciente que deixa emergir a própria psicanálise. Como um segundo ponto, o trabalho se debruça sobre o conceito de lalíngua, seus desdobramentos para a teoria psicanalítica e seu evidente enodamento com a literatura poética, que escancara um não saber, uma quebra de sentido e deixa advir o furo da linguagem que é lalíngua. Finalmente, o trançado se enlaça nas letras da narrativa empreendida por João Guimarães Rosa como subversão da língua que possibilita a emergência de uma língua entre outras, lalíngua, como proposta por Lacan. Os neologismos, onomatopeias e demais figuras de linguagem colocados no narrar do jagunço Riobaldo fazem a fenda que quebra o sentido e o significado, transbordando uma língua outra, lalíngua, repleta de gozo e resistente a qualquer tentativa de apreensão.