Esta obra aborda os sentidos simbólicos do consumo de bebidas alcoólicas, assim como os contextos em que as bebidas são consumidas, entre os povos indígenas karipuna, galibi-marworno, palikur e galibi kali´na, todos localizados no extremo norte do Estado do Amapá, município de Oiapoque, nas Terras Indígenas Uaçá, Juminã e Galibi de Oiapoque. Já está bastante estabelecido na literatura antropológica sobre o tema que, onde quer que um ou mais tipos de bebida alcoólica estejam disponíveis, seu consumo é utilizado para denir o mundo social em termos de significados simbólicos. São poucas ou nenhuma as bebidas neutras de significado. Toda bebida é um veículo simbólico, carrega uma mensagem. Identifica, discrimina, constrói e manipula sistemas sociais, valores, relações interpessoais, normas e expectativas de comportamento. O consumo de bebidas alcóolicas entre os povos indígenas do Uaçá é feito sob orientação de padrões socioculturais que o estruturam e atuam como sua fonte de sentido. O que e por que se consome, seus efeitos no comportamento e a avaliação deste só podem ser apreendidos com referência a esses padrões. A hipótese é de que o consumo de bebidas alcoólicas entre os povos indígenas do Uaçá é ambivalente. A qualificação de seu consumo é positiva quando expressar interação amistosa entre as famílias, entre os povos e com o sobrenatural. E é negativa quando representa ruptura dessa sociabilidade. O bem-beber e a embriaguez reprovável não estão diretamente ligados à quantidade de bebida ingerida, por isso a ideia de excesso ganha sentido apenas se relacionada ao contexto específico na qual ocorre.