É cada vez mais raro encontrar escritores produzindo romances verdadeiros, com todas as qualidades do gênero literário. E eis que surge essa voz, vinda dos rincões baianos, de certa forma surpreendendo pelo fôlego e ousadia. João Calazans Filho se fez na literatura pela poesia, pela qual extraiu sua vocação e veleidade literária. Versos de amante, de apaixonado pela palavra. Dessa paixão, surge então o romancista, inesperadamente, capaz de resgatar a tradição do romance, tão inequívoca quanto esquecida. Sua prosa é vigorosa e não nega todos os recursos dramáticos do romance: personagens marcantes, cheios de vida; diálogos personalizados, com expressões próprias; e estrutura narrativa bem arquitetada. Não bastassem essas qualidades, Calazans resgata também os cenários das fazendas de cacau, da prosperidade e dos conflitos gerados pelo fruto dourado baiano, numa espécie de segundo ciclo que repete a história secular. Nada se altera nas transformações do tempo, pois que dele emana a verdade. É assim que nasce um romancista de fôlego, talento e vigor. Buscando suas raízes, resgatando sua cultura, enfrentando seus medos e ousando — recuperar o passado é sempre uma ousadia. No universo do romance, Calazans veio para ficar.