Imagine acordar em uma estranha prisão, desorientado e sem memória. Aos poucos, indícios o levam a questionar sua condição física e a acreditar que está em um hospital. Porém, acontecimentos inexplicáveis o convencem de que, para seu horror, você poderia ter enlouquecido ou pior... estar morto.
Mas não há respostas. Suas crenças mais arraigadas vão se desfazendo uma a uma...
Esta vibrante narrativa sobre os diferentes estados da consciência, pincelada com ricas referências literárias e artísticas convida o leitor, juntamente com insólitos personagens, a experimentar uma aventura envolvente e desafiadora, até a descoberta da mais perturbadora e surpreendente verdade...
Não consigo parar de escrever. Tento me concentrar nessas folhas a serem preenchidas e não levantar a cabeça. Não quero ver estas paredes, a cor cinza me aborrece em sua indefinição abobada. Uma quase não cor, omissa, inexpressiva, como se tivesse sido vomitada do disco de Newton por não ser nem quente nem fria.
Como a neutralidade pode ser repulsiva e insidiosa. Com que facilidade os que não possuem opiniões podem lavar as mãos!
Se eu não escrever vou virar cinza.""
""Meu feto pós-maturo apodrece em meu ventre exigente, que o aperfeiçoa para nunca mais. Reconheço esse melancólico traço quixotesco que pinta quimeras estagnadas à guisa de autorretratos heroicos. Devo padecer do meu próprio mal autoimune, tornar-me toxina. Inspiro o gás carbônico aspirado. Mas acredito que se trata do ar puro das montanhas que cura os tuberculosos. Eu minto!""
""Senti os pés gelados pela indiferença, por estar novamente muito ciente de que eu era aquele cão de Goya, semihundido no mar violento e marrom. Meu olhar devia ser aquele, o olhar do animal que vai morrer muito em breve, o último instante que precede o fim inevitável. A linha diagonal também me mareava e espalmei as mãos no chão para recuperar o equilíbrio, como se a massa de água estivesse vindo e eu tentasse inutilmente me salvar."""