O homem que, durante trinta anos de pesquisa paciente, tinha feito mais para os cegos do que oito séculos de caridade e esmola, morreu ignorado por seus contemporâneos, sem ostentação ou glória, mas simplesmente, como ele havia vivido. Ninguém teve o pressentimento do significado mundial de seu trabalho; ninguém, além de seu círculo de amigos muito restrito, notou que aos quarenta e três morreu o libertador de milhões de seres anteriormente condenados a ignorância, que hoje, por ele, conseguem alcançar os mais altos índices de cultura. Examinando os jornais da época na busca de algum artigo anunciando sua morte, observa-se que, naquele dia, foi mencionado o banquete no Hotel-de-Ville que o príncipe-presidente, Louis Napoleão Bonaparte, deveria participar. Lamartine anunciou que seu artigo, Le Conseiller du Peuple, cessaria a publicação, para ser substituído por um artigo literário, L Humanité. A candidatura de Monsieur Alfred de Musset à Academia Francesa estava sendo criticada, mas ninguém falou de Braille, nem mesmo nas colunas obituárias. Cem anos depois, no entanto, transbordando os limites demasiado estreitos do país, a fama do menino de quinze que havia concedido a seus irmãos cegos o maravilhoso sistema de seis pontos se espalhou por todo o mundo.