Memórias de infância, fragmentos, detalhes editados pela lei natural da vida. No romance de Ronaldo Costa Fernandes surgem figuras estrangeiras que circulam em meio a um Rio de Janeiro saudoso, numa atmosfera que, ora parece onírica, ora parece um testemunho histórico. Aparecem ao longo da narrativa a razão como um freio e alguns fantasmas mais recônditos, aqueles escondidos na dobra do escuro, que surgem nascidos não se sabe de onde e aguçam nossos atos de lembrar, em um eterno relato de balanço ou acerto de contas. O romancista brinca com essa linha tênue entre ficção versus drama e realidade versus vida, alimentando uma história de aconchego e que exala aromas dispersos, profundos, numa certa sensação de proteção. Entre personagens estrangeiros, exóticos, comunistas, somos saciados por imagens dispersas que se amontoam num emaranhado de causos, devorando-nos com sensações e desejos, uma lembrança esquiva, uma delícia sensória. Ronaldo Costa Fernandes traz em seu novo romance 'O apetite dos mortos' um repertório de memórias onde as palavras existem como forma de reviver lembranças e são exemplos de como a literatura pode ser apresentada: como fonte viva das histórias que nos marcam, nos impactam, nos constroem.