A questão racial no Brasil remete a uma longa trajetória de estudos na área das Ciências Sociais. No Brasil, o fenômeno de classificar indivíduos a partir de atributos físicos, morais e intelectuais estabeleceu fronteiras divisoras e ordenadoras do mundo social, tanto no tempo da escravidão entre senhores e escravos, quanto no período pós-abolição, entre brancos e negros. A noção de raça, portanto, se confunde com a própria ideia de nação, a partir do mito do encontro das 3 raças fundadoras do caráter nacional. A pesquisa realizada na cidade de Campos dos Goytacazes buscou refletir como as categorias de cor e raça atuam no contexto das relações afetivas sexuais inter-raciais, e de que forma os casais percebem as diferenças raciais em seus discursos e reagem às situações em que a cor anima a dinâmica dos afetos.
Este livro é o resultado do esforço de compreensão do fenômeno racial no contexto das relações entre os casais inter-raciais, cuja classificação de cor ou raça se mistura no cotidiano familiar, nas formas de perceber a si mesmo e o outro a partir dos marcadores de cor que os indivíduos mobilizam. Se o racismo é estrutural, ou seja, se é o fenômeno que ordena e hierarquiza o mundo a partir de atributos físicos, cuja posse ou não posse pode determinar as chances de sucesso ou fracasso social dos indivíduos, nada mais necessário do que revelar estas práticas no espaço familiar por onde se promove a socialização primária dos indivíduos por excelência.