Conheci o professor Ubiratan e o poeta Marco Lucchesi, mais de perto, em relação aos valores e aos conceitos, mais profundos, que os aproximavam, quando organizei a obra Marco Lucchesi: Literatura e Matemática. Na verdade, foram quase dois anos de pesquisa a respeito de ambos. Durante o processo da pesquisa e da escritura, propriamente ditas, conversei com diversos professores, estudantes e amigos que estiveram com o professor Ubiratan e Marco Lucchesi.
Lembro-me, com grande nitidez, quando a professora Ana Maria Haddad que havia trabalhado com Ubiratan, no Programa da História da Ciência, stricto sensu, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, relatou, em diversos momentos que a encontrei, que ele tinha uma extrema admiração por Marco Lucchesi. Ubiratan, segundo ela, diferentemente da maioria das pessoas que não sabem envelhecer com dignidade, adorava os mais jovens. Ajudava-os em tudo que fosse possível, desde que tivessem disposição para transgredir o estabelecido em diversos segmentos. Desde que eles não tivessem receio de pensar o diferente.
O professor Ubiratan achava o máximo que Marco Lucchesi tivesse entrado para a Academia Brasileira de Letras com apenas 47 anos. Dizia que jamais tinha visto isso. Ele era o escritor mais jovem, desses últimos anos, entrado, por mérito especificamente literário, no espaço dos imortais. Dizia isso com orgulho, admiração sincera. Brilho naquele olhar profundo, muito profundo e indagativo, que o habitava. Regido por valores que jamais deixou de lado: Paz e Justiça. Dizia também, de acordo com Ana Maria Haddad, que a família de Marco Lucchesi era da lindíssima região de Lucca. Local da Itália que ele mesmo adorava e conhecia bem.
Marco Lucchesi, de acordo com ele, era de um brilhantismo sem precedentes. No domínio das mais de vinte línguas, nas pontes que fazia entre os diversos países sempre em busca de uma cultura da paz. E, claro, de acordo com a professora que o conheceu mais de perto, as ligações originais, conceituais e profundas que Marco Lucchesi fazia entre a literatura e a matemática bem como da filosofia da matemática. Gostava de lembrar que ficou muito surpreso e feliz quando Marco Lucchesi fez o primeiro contato com ele por conta, em especial, do amigo de ambos, o matemático Solomon Marcus, e da emoção que teve quando se conheceram pessoalmente em Niterói. Um encontro inesquecível.
Conforme relatei no livro organizado por mim Literatura e Matemática, Marco Lucchesi desde muito cedo revela sua paixão pela Matemática. Descobre que operava com o algoritmo da criação artística, seu interesse o conduzia a respostas não-numéricas, aquelas que geralmente exponenciam formas de novas perguntas. Originais. De origem. Desdobramentos conceituais em buscas infinitas balizam o pensamento poético-fractal que exala a saudade da infância em forma de flor azul. Em seu livro Ficções de um gabinete Ocidental ele nos presenteia com a beleza do texto A Espiral e o Sonho dos Meninos. Um diário-ensaio infinito em significado e sintético tal qual a fórmula. Spira mirabilis.
A trajetória única e curiosa da criança, se vivida intensamente, permite conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento como a Arte, a(s) Língua(s), a Poesia e a História da Ciência. Como se a completude do ser, mero desejo utópico, fosse aproximada pelo incessante encontro com o conhecimento, infinito tal qual o menino, espiralado tal como a obra do poeta.