Ao contrário de muitos escritores cuja trajetória se inicia com a sua melhor obra, passando em seguida a imitadores de si mesmos, a carreira literária de Edla van Steen se caracteriza por um permanente processo de renovação e amadurecimento, não apenas no sentido de aprimoramento literário, mas também na visão do mundo. A cada obra, a autora catarinense consegue lançar a sua sonda a maiores profundidades da alma humana. Neste sentido, "No Silêncio das Nuvens" é obra exemplar. Nela, Edla reafirma, e como que sublinha, todas as suas qualidades de narradora e pesquisadora dos caminhos e descaminhos humanos, com a sua prosa vigorosa, o estilo preciso, o jogo permanente e desafiador entre o real e o insólito, o domínio teatral dos diálogos, recriando almas, mas tendo sempre como pano de fundo o quadro da sociedade contemporânea. "No Silêncio das Nuvens" reúne quatro contos e uma novela, unidos por uma visão desiludida da vida, por vezes amarga, como já indica a epígrafe do livro, de Carlos Drummond de Andrade: "As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase". De fato, se há algo que a autora repudie é a ênfase. Antienfática por natureza, essa característica como que distingue todos os trabalhos do livro, de "Bodas de Ouro", uma reflexão pessimista sobre a velhice e a morte, até "No Silêncio das Nuvens", o encontro de velhos amigos, num clima sufocante de horrores, passando por "O Rei dos Malditos", que se desenrola durante o enterro do protagonista; "A Vingança", a história cheia de surpresas de um avarento e "Amor pelas Miniaturas ", onde o leitor passeia em pleno terreno do insólito, no qual cinco bonecas influenciam o destino dos protagonistas. Como resumiu o crítico norte-americano David S. George: "No Silêncio das Nuvens é um livro maduro, pela temática, mas ao mesmo tempo pelo estilo, com perdão a Bob Dylan, forever young".