Não sei dizer quando a vontade de escrever passou a ser quase uma necessidade.
Volto no tempo e vejo-me bem pequena em MANAUS, cidade onde morei por alguns anos na infância. Lá, minha vida era olhar pro céu, seduzida pelo voo dos pássaros, especialmente o dos urubus, aves que exerciam um verdadeiro fascínio sobre mim.
Voar passou a ser a brincadeira predileta. Logo ganhei o apelido de menina passarinha. Vivia, isso sim, com o joelho todo escalavrado, parecendo mais a menina maluquinha do Ziraldo. Entrando na adolescência, decidi que seria aeromoça. A miopia arremessou-me pelos ares e o sonho adolescente de voar mais uma vez caiu por terra.
E lá estava a rede – sempre ela! – fiel companheira, a me fazer entender que eu poderia voar tão alto quanto qualquer pássaro, pois as asas que tanto desejava estavam dentro de mim. Que grande descoberta! E foi assim, NO EMBALO DA REDE, que comecei a construir escadas para o imaginário, para o devaneio, para a utopia, para o sonho, para o irreal. De repente uma vontade enorme de despejar para o papel todas aquelas ideias ainda meio confusas, atrapalhadas, porém cheias de ludicidade.
Aos poucos, os textos foram tomando forma e a primeira crônica surgiu. E mais uma, e outra, e mais outra, e outras tantas, e tantas mais, e mais, e mais, e mais... e, sem saber o que fazer com elas, ia guardando todas dentro de uma gaveta qualquer.
A vida é mesmo surpreendente. Aconteceu que há alguns anos tive a honra e a felicidade de ser convidada a participar do MUNDO BOTAFOGO, blogue do qual nada sabia. Sabia, apenas, que RUY MOURA era um homem culto, elegante e competente ao extremo.
Todas essas virtudes do editor deixavam-me nervosa. Eu queria muito que as crônicas saíssem da gaveta e que pudessem ser publicadas em um blogue de conceito elevado.
Precisava de uma boa história para agradar o poderoso chefão. Havia, obviamente, um teste para que o editor pudesse avaliar se meus escritos estavam dentro do padrão por ele exigido.
O dia D se aproximava e borboletas faziam cócegas na minha barriga. Até aquele momento só tinha mamãe como fã e grande incentivadora. Para ela não havia cronista melhor nesse mundo de meu Deus. Dito isso, tu podes imaginar o tamanho da minha ansiedade. E foi assim, com mãos frias e suadas, que recebi uma mensagem do RUY MOURA via e-mail, dizendo-me que SIM!!!!!, ele havia gostado da minha crônica e me convidava a participar do blogue MUNDO BOTAFOGO. Eu acabava de receber o passaporte para a entrada triunfal no seu glorioso reino ALVINEGRO. Dei pulos de alegria e depois balancei-me bem alto na rede, hábito que tenho quando não caibo em mim de contentamento.
E, assim, entrou pelo pé do pato, saiu pelo pé do pinto, e quem quiser poderá ler todas elas reunidas no livro "NO EMBALO DA REDE".
Quem aprecia uma boa leitura e é fã de imaginação, vai se deliciar com o livro "NO EMBALO DA REDE". Para quem não sabe, a autora é minha avó. Uma pessoa engraçada que vê a vida como uma criança. Sempre sorridente, brincalhona e sensível, aliás atributos indispensáveis a uma boa escritora. Mas a autora Vovó Lúcia Senna Costa fez mais. Suas crônicas representam histórias reais, vividas e revividas por todos aqueles que a leem. Lúcia compartilha sua história de vida, com uma concha de simplicidade, boas porções de reflexões, uma pitada de mistério e muito, muito humor, o que torna este livro uma receita de sucesso. Se você nos acompanhou até aqui, procure uma rede, deite-se e desfrute das mais engraçadas situações, transcritas em forma de crônicas. Tenho certeza que você jamais se esquecerá.
Raphael Coelho Leite – 13 anos