As reflexões de Nietzsche sobre as mulheres não têm um lugar marginal em sua obra; elas não se reduzem a preferências pessoais e, menos ainda, a desvios eventuais. Ao contrário, inscrevem-se em sua empresa filosófica. Por essa razão, é preciso relacioná-las com temas centrais do seu pensamento, como o perspectivismo e o experimentalismo, a crítica da metafísica e a luta contra o dogmatismo, a psicologia e a tipologia, os espíritos livres e os filósofos do futuro, a vontade de verdade e a ideia de interpretação, o conceito de vontade de potência e a noção de força, o eterno retorno do mesmo e o amor fati, as "ideias modernas" e a décadence.
Com isso, evita-se o risco de lançar sobre os textos do filósofo um olhar obnubilado pela defesa ou pela recusa das posições feministas. Não se trata de fazer uma leitura literal e anacrônica dos seus escritos, que acabaria por tachá-lo de misógino, nem é o caso, sem uma avaliação prévia de suas proposições, de deixar-se levar por um discurso apologético que faria dele cúmplice do feminismo.