Neoliberalismo, crise da educação e ocupações de escolas no Brasil traz ao leitor um panorama sobre a dimensão latino-americana e brasileira da crise da educação pública. Entende-se que essa crise representa uma das faces da crise do capital.
Nos anos 1970, governos dos Estados Unidos, da Alemanha, do Reino Unido e do Chile iniciaram a implementação de políticas neoliberais. Em um processo em que instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, atuaram como intelectuais orgânicos na formulação de políticas públicas, o Estado foi reorganizado para gerir o capital em fase de reestruturação produtiva. Um processo de privatização dos serviços públicos foi impulsionado, atingindo diversos setores, entre os quais a educação pública. As políticas educacionais passaram a ser pensadas com base na teoria do capital humano, em que a educação é concebida como um fator de produção, sendo instrumentalizada para formar trabalhadores submissos às necessidades do mercado. Somando-se a isso, as parcerias público-privadas e a introdução de critérios fundados na competição e no mérito para avaliar as escolas favoreceram/foram mecanismos utilizados para promover o avanço do setor privado sobre a esfera pública. A remuneração dos profissionais e a distribuição de recursos entre as unidades escolares, nesse sentido, dependiam da avaliação realizada sob os critérios expostos. Na América Latina, o Chile pinochetista foi o pioneiro na implementação do neoliberalismo na educação pública, em um processo que possibilitou a ampliação dos lucros dos empresários que exploravam a educação como mercadoria. Esse processo, por sua vez, precarizou o trabalho docente e endividou estudantes. No Brasil, essas diretrizes foram implementadas ao longo dos anos 1990 (embora pesquisas também apontem que a adoção desses princípios tenha ocorrido já durante a ditadura empresarial-militar instituída pelo golpe de 1964). Aqui, como em outros países, o resultado da implementação da política neoliberal resultou em uma profunda crise que precarizou as escolas públicas, prejudicando docentes, funcionários e estudantes, que, em diversas ocasiões, se rebelaram, com o justo objetivo de defender uma educação pública, estatal, gratuita e feita por e para a classe trabalhadora.