Este é o livro que dá início à idealização de um projeto de sistematização filosófico-religiosa de uma narcorreforma no Brasil e no mundo. Propondo uma ruptura radical na forma como o complexo problema da adicção é tratado e sua relação com a genética, a psicologia e a sociologia e a saúde física, mental e espiritual do adicto em geral. Este é o trabalho que dá início a um projeto ambicioso de como o complexo problema da dependência química é tratado, tendo como objetivo alertar filósofos, psicólogos, psiquiatras, sociólogos e a sociedade em geral para a forma retrógrada e absurda de como a adicção e o adicto são tratados, promovendo assim uma narcorreforma, que pretende realizar no âmbito da dependência química uma reforma nos mesmos moldes da reforma psiquiátrica iniciada na Itália pelo psiquiatra Franco Basaglia. Promovendo um novo e revolucionário olhar sobre a dependência química e a recuperação do adicto. Este livro tem como tese central a ideia de que a história da institucionalização do adicto e da adicção tem como fundamento básico a exclusão perversa promovida pela institucionalização iniciada na Idade Média, onde Foucault detecta a exclusão física-social dos leprosos; e argumenta que com a gradativa exclusão dos leprosos, a loucura ocupou essa posição excludente, e nós argumentamos que, posteriormente à reforma psiquiátrica, o adicto veio a ocupar a mesma posição outrora ocupada pelo leproso e pelo louco através do conceito de "reabilitação" dos vícios comportamentais iniciado pelo movimento do abstencionismo nos EUA do século XIX, por volta de 1800, dando origem às noções modernas de vício e a exclusão social perversa do adicto em clínicas onde eles ficavam completamente isolados do mundo e não incomodavam a sociedade, já que o álcool passou a ser identificado como um agente de degradação social, e a sociedade logo deu um jeito de cuidar de seus alcoólatras por meio do movimento abstencionista que ajudou a aprovar a Lei da Proibição, que proibia a venda, a posse ou o consumo de álcool nos EUA em 1920, fazendo surgir o maior gângster de todos os tempos: Al Capone, que passou a contrabandear álcool para os EUA e o mundo. A sociedade americana como um todo, porém, não estava preparada para desistir das bebidas, porque é da natureza humana recorrer às drogas para aliviar o sofrimento da sua própria existência em momentos de recreação, e a lei foi revogada 13 anos depois, mas agora os afastando da sociedade, isolando-os em clínicas de reabilitação, como uma forma de se livrar dos alcoólatras, de limpar a sujeira da sociedade, e tão logo a responsabilidade pela "reabilitação" do alcoólatra passou para as mãos da medicina, que passou a obter o poder sobre o adicto e a adicção em todo o mundo, e o tratamento passou a ser ministrado em um ambiente mais clínico, e assim a reabilitação passou a ocorrer em hospitais, alas psiquiátricas e sanatórios, onde antes ficavam os leprosos e os loucos conforme nos demonstrou Foucault em sua História da Loucura na Idade Clássica. Na década de 80, houve uma explosão no número de clínicas. A Guerra às Drogas abasteceu o medo do vício e aumentou a demanda por tratamentos de reabilitação e a internação de adictos. O mais interessante é que, à medida que a Guerra às Drogas mostrava grandes resultados sobre a redução do uso de drogas nos EUA, o surgimento das instituições de reabilitação continuava a aumentar de forma espantosa, tornando-se um negócio extremamente lucrativo ao mesmo tempo em que excluía perversamente da sociedade os adictos, fazendo aparentar que a Guerra às Drogas mostrava grandes resultados na redução do uso de drogas e na "reabilitação" do adicto, enquanto que, em verdade, ela apenas jogava a sujeira para debaixo do tapete enquanto os donos do tapete lucravam cada vez mais com a miséria da adicção.