Durante muitas décadas a poesia "A Pátria", de Olavo Bilac, foi lida, decorada e recitada pelas crianças brasileiras. Os versos iniciais diziam: "Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!/ Criança! Não verás nenhum país como este!" Não deixa de ser uma ironia cruel encontrar o verso bilaquiano adotado como título (e com seu significado virado pelo avesso) de um dos romances mais devastadores e pessimistas da literatura brasileira, o oposto do róseo otimismo do poeta das estrelas, Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão. Enquanto gerações de crianças brasileiras recitavam o poema de Bilac, o país (aliás, em sintonia com o mundo) ia acelerando, lentamente, o seu processo de autodestruição, com a devastação das florestas, o acúmulo de lixo, a degradação do meio ambiente, a que se juntou, nos últimos tempos, a destruição da camada de ozônio do planeta, projetando perspectivas sombrias para a humanidade. Romance apocalíptico, no sentido de contar uma história do fim dos tempos, "Não Verás País Nenhum" se desenrola em um futuro não determinado, mas cada vez mais presente na realidade do brasileiro. Uma época terrível, na qual a Amazônia se transformou em um deserto sem nenhuma árvore; onde "O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne em poucas horas"; onde a carência de água impõe a reciclagem da urina, bebida pelas pessoas. A administração do país chegou ao caos. Governantes medíocres, cada vez mais afastados do povo, interessados apenas em vantagens pessoais, uma polícia corrupta e assustadora. No meio desse mundo sombrio, uma história de amor, na qual o autor sugere que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto o bicho-homem alimentar esperanças e for capaz de gestos de generosidade.