No mundo ocidental, a primeira Universidade foi criada na cidade italiana de Bologna, no século XI, em 1088. No Brasil, surgiu de forma muito tardia, somente no século XX, mais especificamente em 1920, denominada "Universidade do Brasil", atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos primórdios, além da diminuta oferta de vagas, as Universidades brasileiras eram frequentadas majoritariamente por membros da elite da sociedade ou integrantes da classe média. Nas reivindicações dos movimentos sociais femininos, nas décadas de 1960 e 1970, estava a pauta por maior acesso à educação, ainda que por e para mulheres brancas abastadas. Posteriormente à Constituição Federal de 1988, ocorreu o fenômeno da ampliação e da democratização do acesso à Educação Superior, que, não obstante, esbarra em dificuldades estruturais para garantir a permanência da mulher, especialmente a mulher negra e pobre. Assim sendo, produções intelectuais que se debrucem sobre as vivências, os empecilhos, as dificuldades e os entraves existentes no espaço universitário sob a perspectiva do recorte de gênero, revelam-se extremamente relevantes. Os resultados dos vários estudos apresentados na obra "Mulheres Negras na Universidade - Reflexões Insurgentes para uma Escalada Emancipatória" desnudam a cruel realidade enfrentada por mulheres universitárias, permeada por lutas, vitórias e derrotas. Revelam, não obstante, o porvir que está sendo forjado pelas vivências universitárias e os conhecimentos em consolidação dessas autênticas amazonas, com o fito de libertá-las da opressão denunciada melancolicamente por Chico Buarque, nos versos de "Mulheres de Atenas":
Elas não têm gosto ou vontade.
Nem defeito, nem qualidade.
Têm medo apenas.
Não têm sonhos, só têm presságios.
O seu homem, mares, naufrágios.
- Wagner Bandeira Andriola
Professor Titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), Pesquisador Nível 1B do CNPq e Pós-Doutorando em Antropologia e Psicologia Social na Universidad de Salamanca (España).